Rui Barbosa - Sinto vergonha de mim



Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade,a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupaçãocom o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos,a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Olho por Olho - Dente por Dente

Na antiguidade (não estou aqui a julgar o mérito) quando a Justiça do olho por olho, dente por dente, confiada aos anciãos, presumivelmente mais sábios, apresentava sim suas divergências entre os integrantes de determinados grupos sociais. Porém o papel desses anciãos em muito se assemelhava ao dos árbitros, pois as soluções se baseavam em suas decisões, independente de um Estado, que ainda não existia e eram definitivas.

Contudo “A arbitragem, que remonta mais de 3.000 anos a.C (...) e tem-se notícia de soluções amigáveis entre os babilônios, via arbitragem pública e, entre os hebreus, através de (...) tribunal arbitral” (Lemos,2001:25). Vê-se na história mitológica da Grécia a riqueza de exemplos característicos do recurso ao laudo arbitral, nas dissensões entre deuses, usando-se também a mediação (Lemos,2001:25). Ury (2000) defende a tese de que a figura do terceiro – em geral um mediador – existe desde tempos milenares, através de seus estudos junto a tribos primitivas, como a dos “bosquinianos, nômades, caçadores e coletores, que vivem no deserto de Kalahari” (Ury,2000:24). Ele ainda faz uma síntese de como, ao longo da história, este terceiro tem atuado, assumindo diferentes facetas e cumprindo diversos papéis, seja com o objetivo de evitar o conflito, resolvê-lo ou contê-lo.

E assim foi brotando...


O atual movimento de expansão das alternativas de soluções de conflitos ganhou força a partir da década de sessenta, em conseqüência da ampliação de conflitos surgidos naquela época, como: protestos contra a guerra do Vietnã, questionamentos e organização dos consumidores, ressurgimento do problema racial, a inquietação estudantil, a luta pelos direitos civis e o reexame do papel da mulher na sociedade – fatos que sem solução amigável infelizmente levaram disputas às ruas e aos os tribunais (...). Em resposta à explosão de litígios de toda a ordem e o descontentamento generalizado com o sistema formal de Justiça, positivaram-se normas jurídicas e morais como organizações conciliadoras que tornaram aptas a mediação e arbitragem. Ao longo dos anos sessenta e setenta, essas organizações evoluíram incorporando diversos institutos, como o da arbitragem que atualmente é uma alternativa que demonstra o resgate de práticas comuns na história da humanidade.